O Japão está a preparar a sua reforma mais abrangente da supervisão cripto em quase uma década, preparando o terreno para um sistema que trataria os ativos digitais muito mais como produtos de investimento tradicionais.
A medida segue meses de deliberações governamentais e uma série de propostas regulatórias que surgiram constantemente ao longo de 2024 e 2025.
Juntas, mostram uma mudança decisiva na forma como o país pretende gerir a atividade de negociação, operações de corretora e proteção do investidor.
O passo mais recente surgiu esta semana depois da Agência de Serviços Financeiros divulgar um relatório detalhado do Grupo de Trabalho do Conselho do Sistema Financeiro.
O documento apresenta um plano para afastar a regulamentação cripto da Lei de Serviços de Pagamento, que tem governado o setor desde 2016, e integrá-la na Lei de Instrumentos Financeiros e Câmbio.
Fonte: Japan FSA
Esta mudança colocaria as criptomoedas sob o mesmo guarda-chuva legal usado para negociação de valores mobiliários, divulgações e regras de conduta de mercado. Os reguladores afirmaram que a mudança reflete como o mercado mudou, observando que a maioria dos usuários agora interage com cripto como um investimento.
Dados do governo mostram que mais de 86% dos usuários domésticos negociam com expectativa de ganhos de preço a longo prazo, enquanto os depósitos em plataformas registradas ultrapassaram cinco trilhões de ienes.
O Grupo de Trabalho concluiu que a estrutura atual já não corresponde aos riscos apresentados por um setor dominado por negociação especulativa, grandes fluxos de entrada de investidores e esquemas complexos de emissão de tokens.
Ao colocar cripto dentro do livro de regras de valores mobiliários, as autoridades pretendem impor requisitos de divulgação mais rigorosos, particularmente para vendas de tokens realizadas por corretoras.
O relatório destaca as ofertas iniciais de câmbio, enfatizando a necessidade de informações pré-venda, auditorias de código independentes e descrições mais claras de quem controla um projeto.
Mesmo ativos totalmente descentralizados estariam sob escrutínio mais rigoroso, com as corretoras responsáveis por fornecer aos usuários avaliações de risco neutras baseadas em dados verificáveis.
As recomendações também pedem regras explícitas contra insider trading cobrindo eventos como listagens de tokens, grandes violações de sistema e vendas em larga escala por emissores.
Estas disposições aplicar-se-iam a funcionários de corretoras, desenvolvedores de tokens e outras partes relacionadas que possam ter acesso a informações não divulgadas.
A abordagem reflete reformas em curso na Europa e na Coreia do Sul, onde as autoridades já introduziram padrões de insider trading para o setor de ativos digitais.
As corretoras que operam no Japão enfrentariam padrões semelhantes aos corretores que lidam com valores mobiliários. Eles seriam obrigados a avaliar a tolerância ao risco dos usuários antes de permitir negociações complexas ou altamente voláteis.
O plano também introduz limites de investimento para ofertas de tokens que não completaram auditorias financeiras, um esforço para evitar que usuários de varejo sejam expostos a pressão de venda repentina quando a negociação começar.
Espera-se que as instituições financeiras tradicionais também desempenhem um papel maior. Enquanto bancos e seguradoras continuarão proibidos de operar corretoras diretamente, os reguladores pretendem permitir que suas subsidiárias ofereçam negociação cripto através de canais altamente supervisionados.
A transição planeada vem acompanhada de uma série de políticas relacionadas que se desenrolaram nos últimos meses.
Em novembro, a FSA propôs um sistema de registo para provedores de custódia e empresas de software de negociação terceirizadas após a violação do DMM Bitcoin do ano passado ter exposto fraquezas em sistemas de terceiros.
Dias antes disso, funcionários confirmaram apoio a um piloto conjunto de stablecoin envolvendo os três maiores bancos do Japão, um esforço que criaria uma estrutura compartilhada para emissão de tokens digitais lastreados em ienes.
Outras propostas em análise incluem permitir que grupos bancários se registem como operadores de corretora, expandindo o acesso para investidores de varejo e aproximando a gestão cripto da estrutura usada para ações e títulos governamentais.
A reforma tributária também está avançando. O governo está se preparando para substituir a atual taxa progressiva de imposto, que pode chegar a 55%, com uma taxa fixa de 20% sobre ganhos cripto a partir de 2026.


