Emirados anunciam retirada do Iêmen após ataque saudita

Os Emirados Árabes Unidos anunciaram na 3ª feira (30.dez.2025) a retirada das forças que ainda mantinham no Iêmen, depois de a Arábia Saudita apoiar um pedido para que as tropas deixassem o país em até 24 horas. A decisão aprofundou a tensão entre as duas potências do Golfo, ambas grandes produtoras de petróleo.

Horas antes do anúncio, forças da coalizão liderada por Riad bombardearam o porto de Mukalla, no sul do Iêmen. O ataque aéreo teve como alvo o que os sauditas descreveram como um carregamento de armas ligado aos Emirados e representou a escalada mais significativa até agora no distanciamento entre os 2 países, que já atuaram juntos no conflito iemenita. As informações são da agência Reuters.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos informou que o secretário de Estado, Marco Rubio, conversou com os chanceleres da Arábia Saudita e dos Emirados sobre as tensões no Iêmen e outros temas de segurança no Oriente Médio. Países do Golfo, como Kuwait e Bahrein, declararam apoio a iniciativas de diálogo. O Qatar afirmou que a segurança saudita e a dos demais países da região “constitui parte inseparável” da própria segurança do país.

Antes vistos como pilares da segurança regional, Arábia Saudita e Emirados passaram a divergir em temas como cotas de petróleo e influência geopolítica. O Ministério da Defesa emiradense disse ter encerrado voluntariamente a missão de suas unidades de contraterrorismo no Iêmen, as únicas forças que permaneciam no país desde a retirada militar de 2019. Segundo a pasta, a presença era limitada a “pessoal especializado”, em coordenação com parceiros internacionais. A agência estatal WAM informou que os desdobramentos recentes levaram a uma avaliação abrangente da situação.

Riad acusou os Emirados de pressionar o STC (Conselho de Transição do Sul), grupo separatista iemenita, a avançar em direção às fronteiras sauditas e declarou a segurança nacional do reino como “linha vermelha”. Foi a linguagem mais dura até agora no desgaste entre os vizinhos, que haviam cooperado contra os houthis, alinhados ao Irã, mas cujos interesses passaram a se afastar de forma gradual.

A retirada emiradense pode aliviar temporariamente as tensões, mas persiste a incerteza sobre a continuidade do apoio ao STC. A Arábia Saudita mantém o respaldo ao governo iemenita reconhecido internacionalmente e disse esperar que os Emirados encerrem qualquer apoio militar ou financeiro aos separatistas. O chefe do Conselho Presidencial iemenita, Rashad al-Alimi, deu 24 horas para a saída das forças emiradenses.

Os Emirados disseram ter sido surpreendidos pelo ataque e negaram que as remessas contivessem armas, afirmando que o material se destinava às próprias tropas. Já a coalizão afirmou que o carregamento incluía armas e munições que seriam distribuídas na região de Hadramout. Segundo a coalizão, o ataque não causou mortes nem danos colaterais. Duas fontes ouvidas pela Reuters disseram que o alvo foi o cais onde as cargas eram descarregadas, mas a agência afirmou não ter conseguido verificar de forma independente o que foi atingido. A TV estatal do Iêmen exibiu imagens de fumaça preta no porto, e Alimi decretou zona de exclusão aérea e bloqueios por 72 horas.