Desigualdade — Foto: Bill Oxford via Getty Images
A desigualdade continua extrema e persistente, de acordo com o Relatório Mundial da Desigualdade 2026 (WIR 2026), que se baseia no trabalho de mais de 200 pesquisadores de todo o mundo, vinculados ao World Inequality Lab.
Os dados mostram que, atualmente, os 10% mais ricos da população global recebem mais renda do que os 90% restantes, enquanto a metade mais pobre captura menos de 10% da renda global total. A concentração de riqueza é ainda maior: os 10% do topo possuem três quartos da riqueza mundial, enquanto a metade inferior detém apenas 2%.
Os 0,001% mais ricos — menos de 60 mil multimilionários — controlam hoje três vezes mais riqueza do que a metade mais pobre da humanidade combinada. A participação desse grupo cresceu de quase 4% em 1995 para mais de 6% na atualidade.
Essa concentração não apenas persiste, está acelerando, aponta o relatório. Desde os anos 1990, a riqueza de bilionários e centimilionários cresceu cerca de 8% ao ano, quase o dobro da taxa de crescimento experimentada pela metade mais pobre da população.
“O resultado é um mundo em que uma minúscula minoria detém um poder financeiro sem precedentes, enquanto bilhões permanecem excluídos até mesmo da estabilidade econômica básica”, diz o texto.
Segundo o WIR 2026, “a desigualdade global no acesso ao capital humano segue enorme, provavelmente muito maior do que a maioria das pessoas imagina”.
Por exemplo, o gasto médio em educação por criança na África Subsaariana é de apenas cerca de € 200 (aproximadamente R$ 1,2 mil), comparado a € 7.400 na Europa (R$ 46,7 mil) e € 9.000 (R$ 56,8 mil) na América do Norte e Oceania. É uma diferença superior a 1 para 40 — aproximadamente três vezes maior do que a diferença no PIB per capita.
A crise climática é um desafio coletivo, mas também profundamente desigual, pontua o documento. Pelos dados divulgados, a metade mais pobre da população global responde por apenas 3% das emissões de carbono associadas à propriedade de capital privado, enquanto os 10% mais ricos respondem por 77% das emissões.
Somente o 1% mais rico é responsável por 41% das emissões ligadas à propriedade de capital privado — quase o dobro de toda a parcela combinada dos 90% de baixo.
“Essa disparidade diz respeito à vulnerabilidade. Aqueles que menos emitem — em grande parte populações de países de baixa renda — são os mais expostos a choques climáticos. Já os que mais emitem estão mais protegidos, com recursos para se adaptar ou evitar as consequências da mudança climática”, destaca o relatório.
Os autores enfatizam que enfrentar este problema exige um realinhamento direcionado das estruturas financeiras e de investimento que alimentam tanto as emissões quanto a desigualdade.
A desigualdade também é uma questão de gênero. Globalmente, as mulheres recebem pouco mais de um quarto da renda total do trabalho, uma fatia que mudou muito pouco desde 1990, pontua o WIR 2026. Na análise por região, os dados revelam que, no Oriente Médio e no Norte da África, a participação feminina é de apenas 16%; no Sul e no Sudeste Asiático, 20%; na África Subsaariana, 28%, e, no Leste Asiático, 34%.
Europa, América do Norte e Oceania, bem como Rússia e Ásia Central, têm desempenho melhor, mas as mulheres ainda recebem apenas cerca de 40% da renda do trabalho.
As pessoas do sexo feminino trabalham, em média, 53 horas por semana, contra 43 horas das do sexo masculino, quando se considera o trabalho doméstico e de cuidado. Excluindo o trabalho não remunerado, o primeiro grupo ganha apenas 61% do rendimento horário do segundo grupo. Quando o trabalho doméstico não remunerado é incluído, esse valor cai para 32%.
“Essas responsabilidades desproporcionais restringem oportunidades de carreira, limitam a participação política e desaceleram a formação de riqueza. A desigualdade de gênero, portanto, não é apenas uma questão de justiça, mas também uma ineficiência estrutural: economias que desvalorizam o trabalho de metade de sua população comprometem sua própria capacidade de crescimento e resiliência”, argumenta o documento.
No plano internacional, o WIR 2026 documenta como o sistema financeiro global reforça a desigualdade. A cada ano, cerca de 1% do PIB global (cerca de três vezes o valor da ajuda internacional ao desenvolvimento) flui de países pobres para países ricos por meio de transferências líquidas de renda externa associadas a rendimentos persistentemente maiores e taxas de juros mais baixas sobre passivos de países ricos.
Por fim, o relatório pede uma cooperação global renovada para enfrentar todas as divisões desde a raiz. Suas recomendações são tributação progressiva, investimento em capacidades humanas, responsabilização climática vinculada à propriedade de capital privado e instituições políticas inclusivas, capazes de reconstruir confiança e solidariedade.
“A desigualdade tem sido uma característica marcante da economia global, mas em 2025 atingiu níveis que exigem atenção urgente”, enfatiza o texto. “Os benefícios da globalização e do crescimento econômico têm fluído de forma desproporcional para uma pequena minoria, enquanto grande parte da população mundial ainda enfrenta dificuldades para alcançar meios de vida estáveis. Essas disparidades não são inevitáveis: são resultado de escolhas políticas e institucionais.”


