Gustavo Macedo, professor do Insper e do Ibmec, durante o evento Voices Marisa Adán Gil A IA regenerativa foi o tema do workshop ministrado hoje por Gustavo Macedo, professor do Insper e Ibmec e também consultor da Unesco em inteligência artificial, durante o Voices, evento de tecnologia e inovação realizado nesta quarta-feira (10/12), no Museu de Arte do Rio. O conceito está ligado a uma nova maneira de utilizar a inteligência artificial, mais sustentável e eficiente, do que o que está sendo feito hoje pela maioria das empresas. "A IA regenerativa é aquela que gera mais valor do que aquele que consumiu", disse o professor. "Muitas vezes isso não acontece." O problema, segundo Gustavo, começa pela própria definição do que seria a IA. Uma vertente mais técnica pensa na IA como uma tecnologia que surgiu na década de 50 e vem evoluindo desde então, com altos e baixos. O outro conceito de IA está associado à inteligência social, econômica e política que está na boca das pessoas, especialmente desde a chegada do ChatGPT, em novembro de 2022. “Hoje, as pessoas querem colocar IA em tudo, até na máquina de lavar. Na minha perspectiva, essa IA é um trending topic, um truque de branding, uma jogada de marketing. Em 90% dos casos, uma bela tabela de Excel teria resolvido o problema”, afirmou o palestrante. Segundo ele, estamos agora vivendo um momento de hype, onde muita coisa não é o que parece. “Esse momento vai acabar logo. Mas a importância da tecnologia não”. Enquanto a badalação em torno do termo continua, é preciso tomar muito cuidado na hora de definir qual tecnologia será usada pela sua empresa, alerta. O maior erro que existe, segundo ele, é confundir solução com ferramenta. Quando alguém vai comprar uma ferramenta, primeiro precisa entender qual o objetivo, as possíveis soluções, as variáveis, o orçamento. “Um bom planejamento tem três etapas: identificação do problema, desenho da solução, e só então escolha da ferramenta que vai auxiliar na execução da solução”, disse Macedo, para quem “a IA não é solução para nada”. Se a empresa comprar uma ferramenta que foi projetada para outra coisa, vai acabar criando mais problemas do que resolvendo, avisa. Cuidado com os agentes Segundo pesquisa recente feita pelo MIT com CEOs de empresas que já usam IA há algum tempo, o maior desafio na adoção da tecnologia é a falta de ideias. Todas as empresas estão correndo para adotar ferramentas de IA, custe o que custar, mas 90% das chamadas soluções de IA adotadas no último ano não deram resultado. “Esses empresários não fizeram a lição de casa. Durante quanto tempo eles vão conseguir enganar os acionistas sobre a falta de retorno das ferramentas?”. É preciso tomar cuidado também com a febre do momento, que são os agentes de IA, diz o professor. Se acreditarmos no que dizem as companhias que vendem os agentes, sua empresa vai falir se não implementar imediatamente pelo menos 1 mil agentes em suas operações. “Os agentes são como qualquer outra ferramenta. Muitas vezes elas não dão o retorno esperado porque não houve planejamento”, afirmou. Ele reforça que o mais importante é determinar o problema, a possível solução e só depois a melhor ferramenta. “É provável que haja uma solução muito mais simples do que agentes de IA para resolver o seu desafio.” Além de tudo, ressalta, as ferramentas de IA disponíveis para os empresários brasileiros costumam ser bastante caras. “Isso acontece por causa da dependência tecnológica que o Brasil tem em relação ao resto do mundo. Hoje, 75% dos especialistas em IA do globo estão nos Estados Unidos ou na China. E mais de 90% de investimentos em IA estão também nesses dois países.” O que sobra para o Brasil? “Migalhas”, disse Macedo. “Essa escolha foi feita pelo país na década de 80, quando decidimos não levar a sério ciência e educação”. Segundo ele, já perdemos a corrida pela IA - e por isso vamos continuar pagando caro para usar os sistemas criados em países como EUA e China. Saída à brasileira Há, porém, uma saída para o país, diz o professor, sinalizando a primeira boa notícia do workshop. “A IA, sozinha, não produz valor. É o seu uso que produz valor, especialmente nas áreas de energia, robótica, sequenciamento do genoma e blockchain. São essas as áreas em que o Brasil precisa se concentrar.” No caso da energia, diz, o país precisa focar em produção, armazenamento e distribuição. “É o grande gargalo mundial. Já falta energia globalmente e vai faltar muito mais, especialmente por causa dos data centers, que devem consumir 3% a 7% da energia global até 2030. “Robótica e sequenciamento do genoma são autoexplicativos, vão contribuir para o futuro e a longevidade da humanidade. E o blockchain será fundamental para garantir a criptografia de todos os dados que estarão disponíveis e fazer com que as empresas não sejam hackeadas.” Segundo Macedo, o grande valor da inteligência artificial está nessas quatro áreas. “Eles são os derivados tecnológicos da IA, e é deles que as pessoas vão falar quando acabar a atual onda de hype”, afirmou o palestrante. “É hora de fazer parcerias para poder criar produtos de valor agregado, que vão trazer riqueza para o Brasil, especialmente num ano em que o mundo inteiro está olhando para a gente, por causa da COP30.” O Voices é uma iniciativa da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio, com patrocínio da Prefeitura do Rio e Secretaria Municipal de Educação, apoio da Zapt, patrocínio das trilhas por Claro Empresas e Insper e parceria da Play9. Gustavo Macedo, professor do Insper e do Ibmec, durante o evento Voices Marisa Adán Gil A IA regenerativa foi o tema do workshop ministrado hoje por Gustavo Macedo, professor do Insper e Ibmec e também consultor da Unesco em inteligência artificial, durante o Voices, evento de tecnologia e inovação realizado nesta quarta-feira (10/12), no Museu de Arte do Rio. O conceito está ligado a uma nova maneira de utilizar a inteligência artificial, mais sustentável e eficiente, do que o que está sendo feito hoje pela maioria das empresas. "A IA regenerativa é aquela que gera mais valor do que aquele que consumiu", disse o professor. "Muitas vezes isso não acontece." O problema, segundo Gustavo, começa pela própria definição do que seria a IA. Uma vertente mais técnica pensa na IA como uma tecnologia que surgiu na década de 50 e vem evoluindo desde então, com altos e baixos. O outro conceito de IA está associado à inteligência social, econômica e política que está na boca das pessoas, especialmente desde a chegada do ChatGPT, em novembro de 2022. “Hoje, as pessoas querem colocar IA em tudo, até na máquina de lavar. Na minha perspectiva, essa IA é um trending topic, um truque de branding, uma jogada de marketing. Em 90% dos casos, uma bela tabela de Excel teria resolvido o problema”, afirmou o palestrante. Segundo ele, estamos agora vivendo um momento de hype, onde muita coisa não é o que parece. “Esse momento vai acabar logo. Mas a importância da tecnologia não”. Enquanto a badalação em torno do termo continua, é preciso tomar muito cuidado na hora de definir qual tecnologia será usada pela sua empresa, alerta. O maior erro que existe, segundo ele, é confundir solução com ferramenta. Quando alguém vai comprar uma ferramenta, primeiro precisa entender qual o objetivo, as possíveis soluções, as variáveis, o orçamento. “Um bom planejamento tem três etapas: identificação do problema, desenho da solução, e só então escolha da ferramenta que vai auxiliar na execução da solução”, disse Macedo, para quem “a IA não é solução para nada”. Se a empresa comprar uma ferramenta que foi projetada para outra coisa, vai acabar criando mais problemas do que resolvendo, avisa. Cuidado com os agentes Segundo pesquisa recente feita pelo MIT com CEOs de empresas que já usam IA há algum tempo, o maior desafio na adoção da tecnologia é a falta de ideias. Todas as empresas estão correndo para adotar ferramentas de IA, custe o que custar, mas 90% das chamadas soluções de IA adotadas no último ano não deram resultado. “Esses empresários não fizeram a lição de casa. Durante quanto tempo eles vão conseguir enganar os acionistas sobre a falta de retorno das ferramentas?”. É preciso tomar cuidado também com a febre do momento, que são os agentes de IA, diz o professor. Se acreditarmos no que dizem as companhias que vendem os agentes, sua empresa vai falir se não implementar imediatamente pelo menos 1 mil agentes em suas operações. “Os agentes são como qualquer outra ferramenta. Muitas vezes elas não dão o retorno esperado porque não houve planejamento”, afirmou. Ele reforça que o mais importante é determinar o problema, a possível solução e só depois a melhor ferramenta. “É provável que haja uma solução muito mais simples do que agentes de IA para resolver o seu desafio.” Além de tudo, ressalta, as ferramentas de IA disponíveis para os empresários brasileiros costumam ser bastante caras. “Isso acontece por causa da dependência tecnológica que o Brasil tem em relação ao resto do mundo. Hoje, 75% dos especialistas em IA do globo estão nos Estados Unidos ou na China. E mais de 90% de investimentos em IA estão também nesses dois países.” O que sobra para o Brasil? “Migalhas”, disse Macedo. “Essa escolha foi feita pelo país na década de 80, quando decidimos não levar a sério ciência e educação”. Segundo ele, já perdemos a corrida pela IA - e por isso vamos continuar pagando caro para usar os sistemas criados em países como EUA e China. Saída à brasileira Há, porém, uma saída para o país, diz o professor, sinalizando a primeira boa notícia do workshop. “A IA, sozinha, não produz valor. É o seu uso que produz valor, especialmente nas áreas de energia, robótica, sequenciamento do genoma e blockchain. São essas as áreas em que o Brasil precisa se concentrar.” No caso da energia, diz, o país precisa focar em produção, armazenamento e distribuição. “É o grande gargalo mundial. Já falta energia globalmente e vai faltar muito mais, especialmente por causa dos data centers, que devem consumir 3% a 7% da energia global até 2030. “Robótica e sequenciamento do genoma são autoexplicativos, vão contribuir para o futuro e a longevidade da humanidade. E o blockchain será fundamental para garantir a criptografia de todos os dados que estarão disponíveis e fazer com que as empresas não sejam hackeadas.” Segundo Macedo, o grande valor da inteligência artificial está nessas quatro áreas. “Eles são os derivados tecnológicos da IA, e é deles que as pessoas vão falar quando acabar a atual onda de hype”, afirmou o palestrante. “É hora de fazer parcerias para poder criar produtos de valor agregado, que vão trazer riqueza para o Brasil, especialmente num ano em que o mundo inteiro está olhando para a gente, por causa da COP30.” O Voices é uma iniciativa da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio, com patrocínio da Prefeitura do Rio e Secretaria Municipal de Educação, apoio da Zapt, patrocínio das trilhas por Claro Empresas e Insper e parceria da Play9.

Voices: entenda por que a IA, sozinha, não é solução para nada

2025/12/11 03:27
Gustavo Macedo, professor do Insper e do Ibmec, durante o evento Voices — Foto: Marisa Adán Gil Gustavo Macedo, professor do Insper e do Ibmec, durante o evento Voices — Foto: Marisa Adán Gil

A IA regenerativa foi o tema do workshop ministrado hoje por Gustavo Macedo, professor do Insper e Ibmec e também consultor da Unesco em inteligência artificial, durante o Voices, evento de tecnologia e inovação realizado nesta quarta-feira (10/12), no Museu de Arte do Rio.

O conceito está ligado a uma nova maneira de utilizar a inteligência artificial, mais sustentável e eficiente, do que o que está sendo feito hoje pela maioria das empresas. "A IA regenerativa é aquela que gera mais valor do que aquele que consumiu", disse o professor. "Muitas vezes isso não acontece."

O problema, segundo Gustavo, começa pela própria definição do que seria a IA. Uma vertente mais técnica pensa na IA como uma tecnologia que surgiu na década de 50 e vem evoluindo desde então, com altos e baixos.

Continuar lendo

O outro conceito de IA está associado à inteligência social, econômica e política que está na boca das pessoas, especialmente desde a chegada do ChatGPT, em novembro de 2022. “Hoje, as pessoas querem colocar IA em tudo, até na máquina de lavar. Na minha perspectiva, essa IA é um trending topic, um truque de branding, uma jogada de marketing. Em 90% dos casos, uma bela tabela de Excel teria resolvido o problema”, afirmou o palestrante.

Segundo ele, estamos agora vivendo um momento de hype, onde muita coisa não é o que parece. “Esse momento vai acabar logo. Mas a importância da tecnologia não”. Enquanto a badalação em torno do termo continua, é preciso tomar muito cuidado na hora de definir qual tecnologia será usada pela sua empresa, alerta.

O maior erro que existe, segundo ele, é confundir solução com ferramenta. Quando alguém vai comprar uma ferramenta, primeiro precisa entender qual o objetivo, as possíveis soluções, as variáveis, o orçamento. “Um bom planejamento tem três etapas: identificação do problema, desenho da solução, e só então escolha da ferramenta que vai auxiliar na execução da solução”, disse Macedo, para quem “a IA não é solução para nada”. Se a empresa comprar uma ferramenta que foi projetada para outra coisa, vai acabar criando mais problemas do que resolvendo, avisa.

Cuidado com os agentes

Segundo pesquisa recente feita pelo MIT com CEOs de empresas que já usam IA há algum tempo, o maior desafio na adoção da tecnologia é a falta de ideias. Todas as empresas estão correndo para adotar ferramentas de IA, custe o que custar, mas 90% das chamadas soluções de IA adotadas no último ano não deram resultado. “Esses empresários não fizeram a lição de casa. Durante quanto tempo eles vão conseguir enganar os acionistas sobre a falta de retorno das ferramentas?”.

É preciso tomar cuidado também com a febre do momento, que são os agentes de IA, diz o professor. Se acreditarmos no que dizem as companhias que vendem os agentes, sua empresa vai falir se não implementar imediatamente pelo menos 1 mil agentes em suas operações. “Os agentes são como qualquer outra ferramenta. Muitas vezes elas não dão o retorno esperado porque não houve planejamento”, afirmou. Ele reforça que o mais importante é determinar o problema, a possível solução e só depois a melhor ferramenta. “É provável que haja uma solução muito mais simples do que agentes de IA para resolver o seu desafio.”

Além de tudo, ressalta, as ferramentas de IA disponíveis para os empresários brasileiros costumam ser bastante caras. “Isso acontece por causa da dependência tecnológica que o Brasil tem em relação ao resto do mundo. Hoje, 75% dos especialistas em IA do globo estão nos Estados Unidos ou na China. E mais de 90% de investimentos em IA estão também nesses dois países.” O que sobra para o Brasil? “Migalhas”, disse Macedo. “Essa escolha foi feita pelo país na década de 80, quando decidimos não levar a sério ciência e educação”. Segundo ele, já perdemos a corrida pela IA - e por isso vamos continuar pagando caro para usar os sistemas criados em países como EUA e China.

Saída à brasileira

Há, porém, uma saída para o país, diz o professor, sinalizando a primeira boa notícia do workshop. “A IA, sozinha, não produz valor. É o seu uso que produz valor, especialmente nas áreas de energia, robótica, sequenciamento do genoma e blockchain. São essas as áreas em que o Brasil precisa se concentrar.”

No caso da energia, diz, o país precisa focar em produção, armazenamento e distribuição. “É o grande gargalo mundial. Já falta energia globalmente e vai faltar muito mais, especialmente por causa dos data centers, que devem consumir 3% a 7% da energia global até 2030. “Robótica e sequenciamento do genoma são autoexplicativos, vão contribuir para o futuro e a longevidade da humanidade. E o blockchain será fundamental para garantir a criptografia de todos os dados que estarão disponíveis e fazer com que as empresas não sejam hackeadas.”

Segundo Macedo, o grande valor da inteligência artificial está nessas quatro áreas. “Eles são os derivados tecnológicos da IA, e é deles que as pessoas vão falar quando acabar a atual onda de hype”, afirmou o palestrante. “É hora de fazer parcerias para poder criar produtos de valor agregado, que vão trazer riqueza para o Brasil, especialmente num ano em que o mundo inteiro está olhando para a gente, por causa da COP30.”

O Voices é uma iniciativa da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio, com patrocínio da Prefeitura do Rio e Secretaria Municipal de Educação, apoio da Zapt, patrocínio das trilhas por Claro Empresas e Insper e parceria da Play9.

Mais recente Próxima 'Educar pessoas é educar a IA': especialistas discutem desafios do mundo Tech
Isenção de responsabilidade: Os artigos republicados neste site são provenientes de plataformas públicas e são fornecidos apenas para fins informativos. Eles não refletem necessariamente a opinião da MEXC. Todos os direitos permanecem com os autores originais. Se você acredita que algum conteúdo infringe direitos de terceiros, entre em contato pelo e-mail service@support.mexc.com para solicitar a remoção. A MEXC não oferece garantias quanto à precisão, integridade ou atualidade das informações e não se responsabiliza por quaisquer ações tomadas com base no conteúdo fornecido. O conteúdo não constitui aconselhamento financeiro, jurídico ou profissional, nem deve ser considerado uma recomendação ou endosso por parte da MEXC.